A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado alertou que a dívida pública brasileira pode atingir o equivalente a 100% do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2030. Segundo o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de dezembro, divulgado nesta quinta-feira (19), o déficit pode chegar a 102,3% do PIB ao final da década e continuar subindo até alcançar 116,3% em 2034.
Para evitar esse cenário, a IFI destaca a necessidade de superávits fiscais anuais de 2,4% do PIB. Sem esses ajustes, a projeção é de que a dívida bruta do governo geral chegue a 86,3% do PIB até o fim do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ultrapassando 90% em 2027.
As estimativas da IFI são mais severas do que as previstas pelo mercado financeiro. De acordo com o Sistema de Expectativas de Mercado, do Banco Central, a dívida deve fechar 2026 abaixo de 85% do PIB e atingir 88,9% em 2030, números ainda elevados, mas menos alarmantes.
O RAF também destacou as inconsistências no cenário econômico de 2024, classificando o ano como marcado por “contradições” entre avanços e retrocessos. Segundo Marcus Pestana, diretor-executivo da IFI, “há uma clara deterioração das expectativas dos investidores em relação à solidez fiscal, à sustentabilidade da dívida e à consistência da política macroeconômica”.
Apesar da expectativa de pacotes de contenção de gastos que garantissem a estabilidade do arcabouço fiscal — o modelo de controle de despesas adotado em 2023 —, as ações propostas pelo governo não convenceram. Anunciadas no final de novembro, as medidas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram vistas como insuficientes para conter o crescimento do déficit.
A IFI ainda calcula que as receitas extraordinárias ou dependentes de aprovação legislativa projetadas para o orçamento de 2025 estão superestimadas em R$ 72 bilhões, o que reforça a necessidade de ajustes fiscais mais robustos.
Apesar dos desafios imediatos, o relatório destacou conquistas estruturais que podem trazer benefícios futuros. Entre elas, estão a aprovação da reforma tributária, que prevê a regulamentação de novos impostos sobre o consumo, e o avanço nas negociações do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Esses marcos são considerados fundamentais para fortalecer a economia brasileira a médio e longo prazos, mesmo diante de um cenário fiscal que ainda inspira preocupação.
*Com informações de CNN